sobre os dias que a gente ria
quando será que vamos parar de fingir que tá tudo bem?
porque não tá.
Parece que a grama do vizinho é sempre mais verdinha do que a nossa. O vizinho tem o melhor cortador de grama, os drenos automáticos funcionam e a água não para de escorrer para deixar a grama mais bonita. Tenho saudade de quando a gente, além de admirar a grama do vizinho, tinha mais tempo, tesão e disposição para cuidar da nossa. Sinto falta do tempo de quando a gente simplesmente não fingia que as coisas são normais.
Hoje a gente trabalha, estuda e bebe vinho com os amigos via Zoom como se tudo tivesse normal. E a pergunta clássica é se isso tem a ver com alienação ou apenas com a manutenção da nossa pouca sanidade. Os dias nos tem imprimido uma espécie de paralisia que se assemelha a uma chama apagada. Jogaram areia nos nossos sonhos e pesaram as nossas esperanças.
Lembro dos dias que a gente ria. Eu rio, você oceano. De quando a gente conseguia fazer planos de viagens e nos encontrarmos bonitos nos restaurantes, sem medo de adoecer. Sem medo de morrer. Nosso flerte com a morte passou a ser quinzenal, baseando-se nas notícias de jornal para saber se podemos ou não sair para abraçar os nossos amigos, como se fosse a última vez. E é difícil desconectar a intensidade disso. Depois de certo tempo presos, o desejo mínimo humano é da liberdade integral sem limites estratégicos. Quero te abraçar e sentir seu coração próximo.
Fantasio com os tempos quando vamos poder sorrir de novo e nos encontrar para o integral exercício da nossa humanidade que clama por conexão real. Que pede o velho carinho pele na pele. Que anseia pela inquietude dos mistérios do planeta.
vou mostrando como sou
e vou sendo como posso
enquanto o homem faz planos, Deus ri lá de cima. sabendo de todas as coisas e dos traçados que cada pessoa vai encontrar em seu caminho.
Bismillah